Paradoxos
"A exemplo de centenas de utentes um cidadão pretende o reembolso do SNS na seguinte situação: A mãe foi operada às cataratas. Não correu bem. Consultou um especialista privado que a operou de urgência depois de a informar que corria risco de cegar. Com o custo da operação no valor de € 9.000 o filho questiona o valor do reembolso. Mas não está prevista qualquer comparticipação pelo SNS. A situação é considerada como iniciativa privada por opção do utente. Deveria ter sido integrada no SIGIC onde a cirurgia é realizada de acordo com o grau de urgência na situação clínica do doente."
"No momento da inscrição dum recém-nascido no Serviço Nacional de Saúde questiono a mamã se o bebé vai ser seguido no público ou no privado. A mamã olha para o papá e, orgulhosa, decide-se pelo privado. A sua opção reflecte o pensamento comum a tantos cidadãos: o da qualidade associada ao custo em detrimento do mesmo serviço oferecido, gratuitamente, pelo SNS. É verdade que muitas pessoas acreditam no "quanto mais caro melhor" ! O que, por si só, é falso! Mas acaba por ser, também, o motivo válido para que os médicos optem pelos serviços privados onde vão receber bem mais do que nos serviços públicos. Quando a mamã pegar num recibo de €60, €70 ou €80 e solicitar a comparticipação do SNS sobre a despesa é certo que vai reclamar do montante de €3,91 do reembolso..."
"Recuemos vinte anos para conhecer Maria (nome fictício) mãe de duas crianças de 3 e 1,5 anos. Como as consultas hospitalares para Otorrino demoram vários meses e preocupada com as consequências de sucessivas otites nos seus filhos doentes, marca consultas num especialista privado. Na consulta o médico informa-a que a situação de saúde das crianças é de tal modo grave que não podem esperar pela idade mínima de três anos e meio para a cirurgia que necessitam com a máxima urgência. A receber o ordenado mínimo a progenitora não consegue pagar as cirurgias no valor de € 4.500 e o seu desespero levou com que o seu médico conseguisse as consultas hospitalares com urgência. Aqui o especialista em Otorrino do Serviço Nacional de Saúde tomou conhecimento da situação e depois de observar as crianças provou-lhe, pelos exames efectuados, que não deviam ser operadas porque simplesmente... não precisavam dessa cirurgia! Chocante o sofrimento causado desnecessariamente a esta e tantas outras famílias? Vinte anos depois, este continua a ser o drama diário de inúmeras famílias. Com a diferença de que, hoje, existe o SIGIC... Continuarão os médicos privados a induzir os cidadão a operações de custos elevadíssimos quando no SNS são gratuitas para o utente?"
"Uma idosa que questiona o montante a comparticipar numa Prótese Auditiva Bilateral. No laboratório pedem-lhe 3 mil euros e exigem a resposta até amanhã. Questiono-a sobre o seu médico de família (para a encaminhar para o processo das Ajudas Técnicas). A utente não me ouve. Mas fala, fala e... fala. Fico a saber que gostava de ganhar o euro milhões e que a técnica que lhe pede os 3 mil euros é muito simpática. E meticulosa."
"Uma utente, deveras aflita, questiona-me sobre a comparticipação numa cirurgia onde um médico privado, muito atencioso, lhe pede 6 mil euros pela operação do marido que não trabalha desde Novembro. Falo-lhe do SIGIC. Não pode esperar que um médico hospitalar aguarde pelos exames para o inscrever no programa. Ficou com consulta marcada para Julho mas o médico privado afirma que o marido tem que ser operado urgentemente. As células estão a morrer e depois "não há nada a fazer"! A senhora chora. Conta-me que as companhias de Seguro não assumem a despesa e remata: a culpa é do Governo."
Consequencias
A facturação dos principais grupos privados na área da saúde aumentou em cerca de 42,5% entre 2008 e 2009. Só o grupo Mello fechou o ano de 2009 com uma facturação de 266 milhões de euros, um crescimento superior a 20% em relação ao ano de 2008, valor que engloba a parceria público-privada do hospital de Braga. O grupo Espírito Santo Saúde (ESS), outro peso pesado no sector da saúde privada, facturou 219 milhões de euros, um acréscimo de cerca de 19% em relação a 2008. Tais resultados são atribuídos ao aumento na procura de cuidados nos serviços privados.
A facturação dos principais grupos privados na área da saúde aumentou em cerca de 42,5% entre 2008 e 2009. Só o grupo Mello fechou o ano de 2009 com uma facturação de 266 milhões de euros, um crescimento superior a 20% em relação ao ano de 2008, valor que engloba a parceria público-privada do hospital de Braga. O grupo Espírito Santo Saúde (ESS), outro peso pesado no sector da saúde privada, facturou 219 milhões de euros, um acréscimo de cerca de 19% em relação a 2008. Tais resultados são atribuídos ao aumento na procura de cuidados nos serviços privados.
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