24/02/10

Não sei se vamos morrer da doença, se da cura

A presidente do PSD considerou hoje que a redução do défice orçamental vai implicar um "tratamento de choque" que causará "grande sofrimento" aos portugueses, dizendo não saber se Portugal vai morrer "da doença, se da cura".

Durante uma conferência promovida pela Câmara de Comércio Luso Francesa, num hotel de Lisboa, Manuela Ferreira Leite apontou como inevitável a adopção de "medidas muito duras" para reduzir o défice, contrárias àquilo que a economia portuguesa precisaria, e questionou: "Não sei se vamos morrer da doença, se da cura".

Apesar de tudo, a presidente do PSD manifestou dúvidas de que Portugal consiga cumprir o prazo imposto por Bruxelas: "Não sei como é que isso se faz. Nem penso que seja sequer susceptível de ser feito. Acho verdadeiramente impensável que em quatro anos se possa fazer uma contração tal nas contas públicas de forma a que se chegue a 2013 com um défice na ordem dos três por cento. Isso daria uma restrição orçamental anual que eu considero que é inexequível".

"Vão ter de ser aumentados os impostos. Mais ano, menos ano, os impostos vão aumentar. Ou de uma forma mais encapotada, ou menos encapotada, mas vão ter de aumentar os impostos", disse.

A presidente do PSD apontou essa medida como "a última coisa que se devia fazer" tendo em conta o estado da economia portuguesa.

"Para que, através da redução da despesa, fosse possível reduzir o défice para os valores que nos são impostos, isso significaria que era necessário cortar todas as despesas públicas em pelo menos cinco por cento. E quando eu falo em todas são todas: são os vencimentos, as pensões, todas as despesas que aí vêm", prosseguiu.

"Eu quero dizer com isto uma coisa um bocado má: que neste momento aquilo que provavelmente vai ter de ser feito é algo que vai ajudar a piorar a situação da qual nós queremos sair. Direi que é uma cura que agrava a doença. E eu não vejo se existe outra alternativa. Não consigo ver", concluiu.

A ex-ministra das Finanças comparou a situação do país à de alguém que está "numa camisa de onze varas" ou à de alguém que engordou e precisa de emagrecer num curto prazo, vendo-se forçado a fazer "uma dieta em que quase se morre por ausência de alimentos".

A propósito do aumento do défice para "um valor na ordem dos 9,3 por cento", a presidente do PSD qualificou de "extremamente grave que seja dito que este valor é um valor que foi deliberadamente decidido" para fazer face à crise por parte do Governo.

Manuela Ferreira Leite rematou a sua intervenção desta forma: "A minha perspetiva, não digo que seja negra mas anda lá muito perto. Gostava de deixar isto bem vincado, porque é a minha profunda convicção: Não sei se vamos morrer da doença, se da cura".

Em resposta a questões da assistência, a presidente do PSD apontou outra medida que antevê que seja adoptada proximamente: "Vai ser decretada uma poupança obrigatória quase seguramente. Pode passar, por exemplo, por um 13.º mês pago em certificados de aforro. Não me admira que isso aconteça".

Referindo que muitas famílias se encontram endividadas, observou: "É necessário para o país, mas vai ser um desastre para as famílias".

Manuela Ferreira Leite disse que "as pessoas não estão conscientes" da situação do país, por culpa dos políticos e também da comunicação social, e manifestou a esperança de que os portugueses tenham "o 'endurance' suficiente para aguentar tudo isto".

Pubicado em Destak/Lusa | destak@destak.pt

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