12/05/10

Asmáticos estão a deixar de comprar medicamentos

Preço dos remédios e baixa comparticipação do Estado leva cada vez mais doentes com asma a abdicar dos tratamentos de prevenção. Só as vacinas antialérgicas custam 500 euros por ano.

São cada vez mais os doentes com asma que estão a deixar de comprar medicamentos por falta de dinheiro. Tudo devido à crise e à baixa comparticipação do Estado, explica a presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos (APA), Marianela Vaz. Um alerta feito quando se assinala o Dia Mundial da Asma.

Para o presidente do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, Teles de Araújo, os casos de doentes que deixam de comprar os medicamentos terão de ser "detectados e têm de ser resolvidos".

"A asma exige medicação permanente, que acaba por ficar relativamente cara para os doentes", justifica Marianela Vaz, também asmática. Por mês, podem chegar a gastar entre 25 a 50 euros, "mas se juntar-mos os preços das vacinas antialérgicas que chegam aos 300 ou 500 euros por ano esse valor aumenta bastante, podendo chegar aos 91 euros mensais", garante a dirigente da APA.

Em Portugal, existe cerca de um milhão de asmáticos, ou seja, um em cada dez portugueses tem esta doença alérgica. E uma grande parte está a optar por apenas tomar os medicamentos em caso de crise. "O inalador de crise é muito barato (1,12 euros) e os doentes quando vão à farmácia só pedem este medicamento, em vez de comprar também os preventivos", chama à atenção Marianela Vaz.

Esta é uma das razões porque, segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, "continuamos a ter uma taxa de internamentos por asma bastante significativa". Mário Morais de Almeida revela ainda que "é frustrante ver que os doente mais graves têm comparticipações menores". Mas, "este é o fado do doente alérgico", lamenta.

Por exemplo, os doentes devem usar um inalador com costicosteróides e broncodilatadores. Um remédio que custa 36 euros com comparticipação, mas se comprar as duas substâncias separadas o doente paga apenas 19 euros.

Ana Maria Quintas tem 58 anos e é asmática desde criança. No entanto, "só há poucos anos é que consegui controlar a doença com a medicação correcta e com um acompanhamento de um especialista", conta ao DN.

À semelhança de muitos doentes, Ana Maria considera que o preço dos medicamentos é elevado. "Uso o inalador todos os dias que custa 57 euros, sem comparticipação, e 36 euros com o desconto. E preciso de um por mês", refere a doente já reformada. Outro problema é que não existe nenhum genérico equivalente.

Para as pessoas que agora estão a deixar de fazer os tratamentos, Ana Maria lembra as complicações que podem estar associadas a uma crise asmática. "A minha asma não estava controlada, depois tive uma crise cardíaca e fui obrigada a levar a doença mais a sério", sublinha.

Ana Maria não é caso único na família. Além dos primos, também o filho, de 29 anos, teve asma na infância. Mas "foi acompanhado desde cedo, fez desporto e tomou a medicação para as alergias e agora a doença está controlada. É como se não existisse", conta a mãe.

A doente asmática realça ainda o facto de a doença ser encarada de forma diferente nos dias de hoje. Antes, não havia preocupação da prevenção, "nasci numa geração diferente e não havia meios para controlar a asma". De tal forma que "fiquei reformada aos 39 anos e hoje sinto-me completamente capaz de trabalhar", assegura.

Fazer os doentes entender que podem ter uma vida normal é também uma batalha da comunidade médica. "A asma é uma doença crónica que na esmagadora maioria dos casos é tratável e os doentes ainda pensam que é sobretudo incapacitante", esclarece o médico Teles de Araújo.

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